- É de cair o queixo! Disse um cidadão ao ver o tamanho da fila num cartório civil.
Realmente tinha um contingente de pessoas aglomeradas que precisavam provar alguma coisa (de forma oficial) e em tempos de pandemia tanto fila como burocracia não deveriam ser toleradas.
Um funcionário dedicado (como todos os que trabalham em cartórios) disse:
- Pode entrar que a pandemia já arrefeceu, mas use a máscara.
O cidadão com o queixo caído entrou. Mas um queixo caído precisa de apoio, assim como é necessário paciência e tolerância para utilizar serviços de cartórios. E a máscara que protege, pode ser a mesma que apoiará um queixo caído. Cada um define suas prioridades de acordo com seu nível de estupidez.
Notava-se muitas pessoas com lindas máscaras faciais segurando os protuberantes queixos. Máscaras poderosas que não permitiam que o queixo fosse contaminado. Notava-se, ainda, uma moça com a máscara no cotovelo. O cidadão refletiu cuidadosamente:
- Quem sabe onde está a dor ou o perigo é sempre a própria pessoa!
Mas um cartório é sempre surpreendente, seja na demora do atendimento como na filosofia já endêmica de não confiar em nada e em ninguém. Mas não importa. O que pareceu contraditório foi uma placa, logo na entrada, que citava: "Não é permitido adentrar utilizando capacete ou qualquer outro acessório que possa esconder a face" (Lei de 2001). E do outro lado da parede dizia: "Uso obrigatório de máscara" (sem citar a Lei). O indeciso cidadão ficou em dúvida, mas entrou. Sabia do chá de cadeira que iria enfrentar, e olha que não haviam cadeiras naquele recinto. Para passar o tempo, ficou refletindo sobre as singelas contradições que assolam o país:
- "Um país que me obriga a votar nas eleições é o mesmo de um presidente que me isenta de vacinar? Será? Pode ser que votar não seja tão contagioso quanto um vírus pandêmico, mas parece menos passível de obrigatoriedade do que uma vacinação. Seja como for, a vida segue, se bem que para muitos a vida cessou na pandemia. Deveria lembrar aos políticos que nem todos os mortos votam, Quem morreu se libertou da obrigatoriedade de votar".
Mas algo transcendeu naquele momento e a reflexão acabou repentinamente. Uma jovem senhora adentrou o recinto usando 3 (três) máscaras: uma na face, outra no queixo e a outra no cotovelo.
- Agora me sinto melhor. Orgulhou-se o cidadão.
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